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Site criado em 02/11/2010 |
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O início da Estância do Sobrado
Hipólito José que não desertara da vida, tinha de buscar ganhá-la. Procurava um trabalho que lhe permitisse viver em paz. Esgotara seus ímpetos de guerreiro. Não queria mais ser soldado.
Sabendo que Dona Maurícia precisava de gente, ofereceu-se para trabalhar e foi empregado como capataz. Homem experiente, líder nato, Hipólito melhorou a produtividade da fazenda. Os campeiros, livres ou escravos, coordenados por alguém capaz de fazer com vantagens as atividades que eles faziam, multiplicavam-se nos seus esforços e em sadia competição.
Tudo corria bem na estância e não causou surpresa nas Lavras o anúncio do casamento de Dona Maurícia com Hipólito. Ela já casara duas vezes e era mulher decidida, impulsiva e que sabia, apesar da pouca instrução, fazer escolhas e negócios. Casaram-se quando corriam os anos quarenta (1840).
Maurícia acostumara-se a agir como homem. Cavalgava usando bombachas e conhecia de perto suas propriedades e seus gados. Logo após casada, vestiu suas roupas para camperear quando Hipólito, calmo, mas firme, observou: “De hoje em diante só eu visto bombachas nesta casa”.
Aquela mulher forte resistia a imposições, porém sentiu, mais no olhar que nas palavras, o significado e a conveniência da nova situação. Não assumira a administração da estância por gosto, mas por necessidade. Passou a assumir a casa e seu homem. Não voltou a usar bombachas e abandonou as campereadas.
A aliança de forças e virtudes de uma matriarca com um lidador dava resultados estupendos. Campos eram comprados, tropas, tanto de mulas quanto de gado vacum, eram vendidas.
Dona Maurícia que se casara duas vezes e não tivera filhos, passou a tê-los. Nasceram Galvão, José Antônio e Floriana.
Como as coisas iam muito bem, resolveram construir uma casa sólida e confortável que servisse como sede da estância. Em 1852, ficava pronta a casa com paredes muito largas, feitas com pedras rejuntadas de barro.
O local da construção da casa fora escolhido muito antes. Nele, já havia morada. Localizava-se em uma elevação próxima ao Arroio dos Jacques que, mais adiante, chama-se Camaquã do Hilário, um dos afluentes da margem esquerda do rio Camaquã. Não havia riscos de inundação apesar da proximidade do arroio, pois ocupava elevação. Densa mata ciliar acompanhava todo o curso sinuoso do arroio e era mais encorpada junto da casa, onde as caneleiras eram muitas na encosta da elevação. A água era farta e boa. A posição não era má para defesa contra ataques de homens ou animais. Atrás da casa, existia um potreiro plano de belo verde emoldurado pela mata. A localização prestava-se para conseguir mangueiras, cercados e potreiros com facilidade. Nas cercas eram usadas valas e pedras, muito abundantes na região. Ainda hoje, há marcas de valos e de uma mangueira de pedra que, reconstruída, tem menos da metade da original dos tempos da escravatura e da sesmaria.
A família já tinha propriedades no Piquiri, em Cachoeira do Sul, e surgira a possibilidade de adquirir mais campos por lá. Hipólito montou seu cavalo e empreendeu viagem para efetuar a compra. Andou algumas léguas. Fez meio-dia com churrasco e sesta na sombra de um umbu. Após, puxou seu cavalo para encilhar e recomeçar a viagem. Ao apertar a cincha, caiu sem sentidos. Nada disse, nada fez. Morreu ao encilhar seu cavalo. Maurícia tornara-se viúva pela terceira vez.
Ao contrário das vezes anteriores, ela agora tinha filhos e bem crescidos. Procurava educá-los da melhor forma. Sabiam ler, escrever e tinham convivido com o pai o suficiente para aprender a lida do campo e a maneira de como se comportar na vida. Ficara uma base sólida e a certeza de que poderiam evoluir sem limites, desde que enfrentassem a vida de frente, sem atalhos, com trabalho.