Família Luchsinger > artigos

Site criado em 07/06/2015
http://www.familiasdobrasil.com.br/luchsinger
Plano: Pacote Ilimitado - Validade indeterminada
Fundador: Marcelo de Souza Lerina
Casal raíz: João Rodolfo Miguel Luchsinger (1848) e Guilhermina Eichenberg (1850)
Local de referência: Rio Pardo - RS - Brasil

2 membro(s) cadastrado(s)

 

 

 
  • Marcelo de Souza Lerina

    O Sobrado dos Luchsinger em Rio Pardo

    O terreno pertencia inicialmente ao Capitão Manoel José Machado (Filho) (*1785 Rio Pardo RS/+1843 Rio Pardo RS), que provavelmente tenha herdado de seus pais;
    Com a morte de Manoel Machado, o terreno foi vendido para em 20/12/1843 para o alemão João Fischer. João Fischer, casado com Anna Maria Fischer, era comerciante em Rio Pardo. Este comprou a casa térrea na Rua da Praia, ou Passo do Jacuí para sua residência e o terreno contíguo a esta casa, sobre o qual seria construído o futuro sobrado. O terreno foi vendido posteriormente a Carlos Oestreich.
    No dia 23/03/1846, no 2º Cartório da cidade de Rio Pardo, compareceram para efetuar a venda e escriturar o terreno do futuro sobrado os vendedores João Fischer, sua mulher Anna Maria e o comprador Carlos Oestreich, todos moradores da vila de Rio Pardo.
    O preço ajustado foi de 400 mil réis. Assinaram o documento: o vendedor João Fischer, João Rodrigues Palhares a rogo de Anna Maria Fischer e Carlos Oestreich, além da testemunha e o Tabelião (Arquivo Público do RS, Rio Pardo, Livro de Transmissões/Notas, 2º Tabelionato, nº 10, fls. 109 e 109 v - 1839-1846).
    Não se sabe em qual ano Carlos Oestreich foi se estabelecer como comerciante em Rio Pardo. Provavelmente, ele tenha residido nesta cidade com Henrique José Oestreich, possivelmente um parente seu, mas não consta que ele tenha imigrado juntamente com Carlos e sua família. Aquele era casado com Anna Maria Krey e eram moradores na Rua da Ponte (Rua Gen. Osório). José, como este era chamado, também era comerciante. A construção do sobrado ainda levaria alguns anos. Carlos Oestreich precisaria de maiores recursos.
    Em 22/07/1850, foi lavrada uma escritura de dívida e hipoteca, sendo hipotecantes Carlos e sua mulher Catharina Oestreich e como credor hipotecário Pedro Badet, residente em Porto Alegre, o qual foi representado pelo seu Procurador Guilherme Bormann e Companhia. O valor do empréstimo era de 2 contos, 688 mil réis, que seriam destinados à construção de uma propriedade de casa de sobrado, sendo que a mesma serviria de garantia hipotecária ao credor. Nesta escritura, é feita a primeira menção da soteia, que fazia parte da casa.
    Na sequencia, ou seja, na data de 22/07/1850, e no mesmo Cartório, outra escritura de dívida e hipoteca era realizada por José Oestreich e sua mulher, Maria Ostreich, com Guilherme Bormann e Companhia. Está registrado que os primeiros eram devedores da quantia de 1 conto, 139 mil e quatrocentos réis de gêneros, com os quais supriam o giro de seu negócio comercial.
    Na data de 30/07/1851, Carlos Oestreich utiliza novamente o Cartório para efetuar outra escritura de dívida com hipoteca, porém chamou o Tabelião para ir até a sua casa. O casal Oestreich havia feito um empréstimo com José Welter, no valor de 2 contos e 240 mil réis em moeda corrente, com garantia hipotecária do sobrado de sua propriedade. O credor, José Welter, residia na Colônia de São Leopoldo (no Campo Ocidental, que corresponde atualmente à Estância Velha). A finalidade da dívida era a construção da casa de sobrado com soteia.
    No dia 23/10/1852, no 2º Cartório da cidade de Rio Pardo, compareceram, para efetuar a venda da casa de sua propriedade, o casal José e Anna Maria Oestreich a Guilherme Bormann e Companhia, negociante de Porto Alegre, representado por Nicolau Hasslocher e Companhia, a quem haviam hipotecado a casa como garantia de uma dívida registrada neste mesmo Cartório na data de 22/07/1850. Desta forma, o casal deu a casa como pagamento da dívida restante que correspondia à quantia de 800 mil réis. Assinaram as partes. (Arquivo Público do RS, Rio Pardo, Livro de Transmissões/Notas, 2º Tabelionato, nº 12, fls. 93 a 95 - 15/02/1851-11/08/1853).
    Por este último fato relatado acima, acreditamos que a casa tenha sido concluída numa data próxima à de 23/10/1852, pois José Oestreich entregou ao devedor a casa e o seu provável local de negócios ao seu credor hipotecário, devendo ter em mente a sua transferência, juntamente com a família de Carlos Oestreich, para o sobrado da Rua da Ladeira. O sobrado de dois andares teria espaço suficiente para abrigar as duas famílias. No andar de baixo, os Oestreich manteriam o negócio de secos e molhados e, no andar de cima, utilizariam os cômodos destinados à moradia.
    A construção do sobrado, desde o seu início, foi direcionada para o comércio. O local não poderia ser melhor, pois fora construído na Rua da Ladeira, ponto estratégico no comércio e transporte de mercadorias. Nas imediações da zona da praia e da Igreja Matriz situava-se a zona comercial da cidade.
    Carlos Oestreich não desfrutou por muito tempo da casa e dos negócios, pois este faleceu em 13/06/1855, pouco mais de dois anos depois do término do sobrado. “Aos treze dias do mês de junho de mil oitocentos e cinquenta e cinco anos, nesta Cidade de Rio Pardo, faleceu de inflamação e com cinquenta anos de idade, Carlos Oestreich, natural da Alemanha, casado e com filhos. Foi por mim encomendado e será sepultado no Cemitério desta Igreja. E para constar mandei fazer este registro que assinei. O Vigário João Baptista da Motta Velloso (Cúria Metropolitana de Porto Alegre, Rio Pardo, Livro de Óbitos nº 5, fl. 139).” O cemitério mencionado era o antigo cemitério que existia atrás da Igreja Matriz de Rio Pardo, do qual não existem vestígios. No lugar, posteriormente, foi construída a Casa Paroquial. Naquela época, ainda não existia o Cemitério Municipal, pois este somente foi inaugurado anos depois.
    Na data de 09/07/1855, foi feita a escritura de venda e dação em pagamento (datio in solutum) entre André Marques Oestreich, autorizada pelo Juiz de Órfãos e com a carta alvará de autorização, e José Welter, comprador e credor de seu finado pai Carlos Oestreich. A viúva, filhos e genros haviam renunciado às suas quotas de herança, tendo em vista as dívidas deixadas pelo de cujus. A casa de sobrado na qual Carlos exercia o seu negócio estava com dívidas, e o filho André habilitou-se judicialmente para vender os bens da herança e, com o produto da venda, poderia pagar todas as dívidas da mesma.
    José Welter e sua família começariam uma nova vida em Rio Pardo. Antes disso, venderam as terras e cabeças de gado que mantinham no Campo Ocidental (Estância Velha), que pertencia à São Leopoldo, além de vender metade das terras que formavam o Lote nº 17 da Picada Bom Jardim (Ivoti RS), as quais foram vendidas a Pedro Müller, em 27/07/1855, pela quantia de 1 Conto e 300 mil Réis. Pedro Müller ficou com a área total de 79.030 braças quadradas. José Welter devia manter contatos comerciais de longa data com comerciantes de Rio Parto. Por esta razão é que conhecia Carlos Oestreich e provavelmente outros alemães que residiam naquela cidade.
    No sobrado que havia tomado posse e onde seria a morada de sua família, Joseph estabeleceu a sua casa de negócios no andar térreo, comercializando diversas mercadorias, tais como: alimentos e bebidas (café, vinho, aguardente, cerveja inglesa, genebra, conhaque, absinto, capilé, latas de sardinha, pimenta do reino, canela, cravo, erva-doce, cominho, chás, alfazema, melado, vinagre, sal, erva, farinhas, feijão preto, arroz, açúcar, bacalhau e rapadura); mercadorias diversas (sabão, velas, chifres de vaca, charutos, fósforos, fumo, azeite, louças, utensílios de cozinha, pólvora, material de costura, linhas em novelos, botões de madrepérola, tinta de escrever e rapé); vestuário (tamancos, chapéus de palha, fazendas como chita, algodão e tecidos para calças, chapéus de Braga, lenços de seda, retalhos, paletó de riscadinha e pares de meias, inclusive para senhoras); ferragens (chumbo de caça, tesouras de alfaiate, cadinhos de ourives, balanças, foices, correntes), dentre outras mercadorias. Naquele tempo, as mercadorias vindas de Porto Alegre chegavam ao porto de Rio Pardo e iam para frente da Igreja de São Francisco, onde ficavam por cinco horas para comercialização.
    Johannes Joseph Welter viveu por alguns meses no sobrado, pois veio a falecer em 13/02/1856, aos 45 anos de idade, por afogamento, sendo sepultado no antigo cemitério existente atrás da Igreja Matriz daquela cidade (Igreja de Nossa Senhora do Rosário). Conforme informações obtidas em seu inventário, Joseph teria desaparecido no dia treze daquele mês, tendo sido encontrado morto no dia seguinte, data em que foi sepultado (Arquivo Público do RS, Inventários, Nº 260, Maço 9, Estante 71, Ano 1860, 1º Cartório Órfãos e Ausentes, São Leopoldo - Porto Alegre).
    Foram inventariadas a casa e as mercadorias, definidos os devedores e os credores. A viúva Catharina pediu ao juiz que alguns dos gêneros e fazendas não entrassem na partilha, para que pudesse saldar as dívidas. Assim foi feito, porém o dinheiro dos devedores não conseguiu cobrar.
    Catharina Welter, na data de 09/05/1856, pede um alvará ao juiz para a venda da casa da família. Querendo retirar-se para as colônias do município de São Leopoldo, onde dizia ter amparo de parentes e família, pediu a remoção dos bens de seus filhos que tinham partes da casa de moradia, para a aquisição de outros bens de raiz em São Leopoldo, além de poder vender a sua própria parte para esta aquisição, ou seja, queria aplicar o produto da venda das partes na aquisição de outros bens imóveis. Dizia ser mais vantajoso, porque o aluguel da casa era bom, mas não dava sequer o juro da lei. Prometeu prestar contas da venda. Provavelmente, neste mesmo ano, Catharina tenha ido morar com os filhos em Ivoti (ou Picada Bom Jardim que pertencia a São Leopoldo), onde viviam alguns membros da família Mossmann e da família Welter.

    O negociante Jacob Luchsinger, estabelecido na cidade de Rio Pardo, ficou sendo o seu locatário, tendo o encargo de vender os gêneros.Parte destes Catharina levou para Ivoti e parte foi vendida em leilão em Rio Pardo, rendendo, porém, menos do que valiam.

    Jacob Luchsinger foi o próximo proprietário do sobrado.

    Jacob Luchsinger, além de se tornar o terceiro proprietário, foi o primeiro locatário do sobrado. Negociante e amigo da família Welter, amparou a viúva e os filhos menores nos momentos difíceis pelos quais estes passaram. Decidindo ir para perto de sua família e buscar o apoio de que precisava, Catharina Welter e seus filhos deixaram Rio Pardo, mudando-se em definitivo para a Picada 48, uma localidade de Ivoti RS. Na data de 04/09/1858, foi lavrada a escritura de venda do sobrado para Jacob Luchsinger, através de uma procuração feita pela viúva Catharina a Apolinário Francisco Ferreira Guimarães. O sobrado foi vendido por 1 Conto e 650 mil Réis em três pagamentos: 1 Conto de Réis à vista e dois de 325 mil Réis, no prazo de seis e nove meses respectivamente (Arquivo Público do RS, Rio Pardo, Livro de Transmissões, 2º Tabelionato, nº 16, fls. 13 a 16 v - 1858-1860).
    Um endereço antigo do sobrado: a Rua do Imperador.
    Na data de 17/06/1872, foi lavrada uma escritura de dívida de Jacob Luchsinger e de sua esposa Louise, para com seu cunhado João Jorge Fayette, que residia em São Gabriel, o qual foi representado por procurador, que era João Rodolfo Miguel Luchsinger, filho de Jacob. A escritura foi lavrada na casa de seu pai. A dívida, que era de 4 contos de réis, tinha como garantia hipotecária a casa de sobrado dos Luchsinger, situada na Rua do Imperador nº 7, esquina com a Rua Visconde de Pelotas, a qual seria paga no prazo de dois anos, com juros de 6% ao ano. Tal registro é considerado importante, pois esclarece que Jacob Luchsinger realmente morava no sobrado da Rua da Ladeira, mantendo nele também o seu negócio (Arquivo Público do RS, Rio Pardo, Livro de Transmissões/Notas, 2º Tabelionato, nº 20, fls. 39 v a 40 v - 1871-1874).
    Na data de 19/05/1874, Jacob Luchsinger e sua esposa fizeram a doação de todos os bens ao seu único filho João Rodolfo Miguel Luchsinger: a casa de sobrado onde toda a família residia, no valor de 5 contos de réis, uma dita velha situada na Rua Visconde de Pelotas, por 4 contos mil réis, um terreno que foi dos herdeiros de João Ignácio por 3 contos mil réis, quatro escravos crioulos, Maria, Jacintho, Francisco e Justina, por 3 contos e 200 mil réis, totalizando 8 contos e 900 mil réis. (Arquivo Público do RS, Rio Pardo, Livro de Transmissões, 2º Tabelionato, nº 20, fls. 150 v, 151, 151 v e 152 - 1871-1874).
    João Rodolpho Miguel veio a falecer na data de 31/08/1903 em sua casa na cidade de Rio Pardo, aos 54 anos, devido a uma enfermidade cardíaca, sendo sepultado no Cemitério Público desta cidade. Theodoro Henrique Eichenberg, provavelmente irmão de Guilhermina, é nomeado tutor dos filhos menores do falecido. Na descrição dos bens imóveis constava o sobrado, cujo endereço, em relação ao nome das ruas e o próprio número, apresentavam-se novamente alterados: “A casa de sobrado sob nº 3 à Rua Julio de Castilhos nesta cidade – esquina com a Rua General Câmara, com o terreno que lhe pertence e o terreno do lado do norte até a casa, que serviu de enfermaria militar...”, sendo avaliada em 6 contos de réis (o pai Jacob Luchsinger comprou o sobrado por 1 Conto e 650 mil réis).
    Foi anexado ao inventário outro processo, que dizia respeito ao pedido de consentimento judicial feito pela viúva Guilhermina Luchsinger em nome de suas filhas menores púberes, Ivetta e Zilda, para que pudessem efetuar a venda de suas partes no sobrado, posto que a mãe e os demais herdeiros maiores já haviam vendido as suas partes relativas e o comprador já estava residindo no sobrado, tendo este último proposto o aluguel das frações que pertenciam às mesmas. Alegaram que a situação lhes criariam dificuldades, não sendo possível alugar parte do sobrado, posto que ali já existisse um morador. O requerimento foi feito em 13/03/1912. Uma testemunha, chamada em juízo, afirmou que o prédio precisava de reparos urgentes, o que seria oneroso para as herdeiras menores, que não possuíam recursos para arcar com estas despesas.
    A decisão veio a seguir: o Juiz Distrital da Vara de Órfãos determinou a venda em hasta pública, constando no Edital a data de 22/04/1912 para a venda das duas partes da casa de sobrado pertencentes às menores, no valor total de 1 conto, 391 mil e 170 réis. O maior lance oferecido pelo comprador foi de 1 conto 393 mil réis, cuja quantia foi entregue ao procurador de Guilhermina Eichenberg Luchsinger e das menores Ivetta e Zilda (Arquivo Público do RS, Inventários, Nº 1180, Maço 53, Estante 47, Ano 1903, Órfãos e Ausentes, Rio Pardo).
    Da data aproximada do término da construção, 23 de outubro de 1852, até 20 de maio de 1912, que é a do término do leilão, passaram-se 60 anos. Pela análise dos fatos, o sobrado já se achava ressentido pela passagem do tempo, necessitando de reparos importantes. Voltemos a este ponto da história. O sobrado pertenceu à família Luchsinger por quase 54 anos, cujas datas de início e término foram 04/09/1858 e 22/04/1912, respectivamente.
    Foi anexado ao inventário outro processo, que dizia respeito ao pedido de consentimento judicial feito pela viúva Guilhermina Luchsinger em nome de suas filhas menores púberes, Ivetta e Zilda, para que pudessem efetuar a venda de suas partes no sobrado, posto que a mãe e os demais herdeiros maiores já haviam vendido as suas partes relativas e o comprador já estava residindo no sobrado, tendo este último proposto o aluguel das frações que pertenciam às mesmas. Alegaram que a situação lhes criariam dificuldades, não sendo possível alugar parte do sobrado, posto que ali já existisse um morador. O requerimento foi feito em 13/03/1912. Uma testemunha, chamada em juízo, afirmou que o prédio precisava de reparos urgentes, o que seria oneroso para as herdeiras menores, que não possuíam recursos para arcar com estas despesas.
    A decisão veio a seguir: o Juiz Distrital da Vara de Órfãos determinou a venda em hasta pública, constando no Edital a data de 22/04/1912 para a venda das duas partes da casa de sobrado pertencentes às menores, no valor total de 1 conto, 391 mil e 170 réis. O maior lance oferecido pelo comprador foi de 1 conto 393 mil réis, cuja quantia foi entregue ao procurador de Guilhermina Eichenberg Luchsinger e das menores Ivetta e Zilda (Arquivo Público do RS, Inventários, Nº 1180, Maço 53, Estante 47, Ano 1903, Órfãos e Ausentes, Rio Pardo).
    No próximo ato, a Sociedade de Beneficência 24 de Junho, na pessoa de seu presidente, Guilherme de Paolo Barroso, arrematou em hasta pública os bens das menores Ivetta Luchsinger e Zilda Luchsinger, passando a ser a proprietária destas frações do sobrado e, consequentemente, da totalidade do imóvel. Esta Sociedade foi fundada no ano de 1880, na cidade de Rio Pardo, tendo como patrono São João Batista, cuja imagem foi colocada na sede da entidade. A Sociedade tinha como finalidade socorrer os associados enfermos e arcar com as despesas no caso de morte do associado, o que foi feito por muitos anos, através de serviços de apoio médico e farmacêutico, todos feitos de forma gratuita.
    No dia 07/08/1920 (*), compareceram ao 2º Cartório para realizar a escritura de compra e venda do sobrado com o respectivo terreno, de um lado, a vendedora Sociedade Beneficente 24 de Junho, representada pelo seu Vice-Presidente em exercício, Plínio Pinto de Almeida Castro, Antonio Candido Fanfa, o 1º Secretário, Eduardo de Araújo Borba, o 2º Secretário, João Luiz Faller, Tesoureiro e José Maria Garcia Filho, Fiscal Geral e, de outro, o comprador José Borges Sobrinho, brasileiro, viúvo, industrialista e residente em Rio Pardo. O sobrado foi vendido pela quantia de 7 contos de réis. Realizou a escritura o 2º Notário interino, Guilherme de Paolo Barroso.
    José Borges Sobrinho era casado em primeiras núpcias com Flabelina Gayer Borges, falecida em 1925, tendo os filhos Edith, Zélia e José deste casamento. Com a morte da esposa, houve a partilha referente ao sobrado, tendo cada filho recebido a sua terça parte relativa ao mesmo. Porém, estes filhos, que eram solteiros, faleceram na década de 1940, retornando o imóvel integralmente a José Borges Sobrinho, o único herdeiro. Conclui-se que o mesmo tenha renunciado a este bem em favor de seus filhos menores na época do inventário da esposa. José casou-se em segundas núpcias com Regina Maurília de Barros Borges, tendo outros filhos deste casamento.
    Pelo que se depreende, José construiu a casa térrea na Rua Coronel Franco Ferreira para sua moradia e de sua família, tendo o sobrado sido reservado para a parte administrativa de seus negócios na cidade de Rio Pardo. A próxima fase do sobrado começará com a sua venda pelo proprietário José Borges Sobrinho no ano de 1950.
    No dia 20/10/1950, José Borges Sobrinho e sua esposa Regina Maurília de Barros compareceram ao Cartório para realizar a escritura de compra e venda do sobrado, tendo como compradora a firma Braun Irmãos & Cia. Ltda, com sede na cidade de Rio Pardo. Na escritura constam, além da descrição do imóvel, os números do sobrado: 711 e 717 (Livro nº 142, nº 1.38, fls. 60 e 61 verso). O sobrado foi vendido pelo valor de 40 mil cruzeiros, incluindo-se o terreno da propriedade. Na data de 18/02/1961, foi feita a averbação de uma benfeitoria: uma construção feita pela adquirente de um prédio de alvenaria, com frente para a Rua General Câmara, com 14 metros, anexo ao sobrado, tendo 7 metros de frente a fundo.
    A partir desta época, o sobrado passa a ser conhecido como o Sobrado Braun. Alfredo Fernando Braun (*26/08/1891 Santa Cruz do Sul RS), casado com Helma Haas (*10/03/1892 Santa Cruz do Sul RS), era ferreiro, vindo da cidade de Santa Cruz do Sul RS, para trabalhar na construção de barcaças em Rio Pardo.
    A família Braun atuou em diversos ramos do mercado, inclusive no de transportes. No ano de 1956, a Empresa Citral, concessionária de serviços públicos no ramo dos transportes coletivo de passageiros, adquiriu a Braun & Cia Ltda, outra empresa de Alfredo Braun, que possuía quatro ônibus naquela época.
    O filho Albino Braun fundou em 13/11/1950 o Aeroclube dos Dragões, nome dado em homenagem aos militares do antigo Forte, cuja pista de pousos e decolagens situava-se na várzea do Rio Pardo, em frente à antiga viação férrea, transferindo-se em 1962 para o Bairro Boa Vista, por causa das enchentes. Albino fez o curso de mecânico e de instrutor para formar novos pilotos, que somaram ao longo do tempo pelo menos uma centena de profissionais.
    Na data de 16/11/1979, houve a dissolução da Sociedade, havendo a transmissão do sobrado por parte de Braun Irmãos & Cia. Lida. à viúva Helma Haas Braun, domiciliada em Rio Pardo e Julinho Afonso Braun, seu filho, comerciante, também domiciliado em Rio Pardo.
    Helma Haas Braun faleceu do dia 27/07/1980 em Rio Pardo. Assim sendo, a sua parte relativa ao sobrado coube de herança ao filho Julinho Afonso Braun, mecânico, casado na data de 12/02/1944 com Azir Yocchims Braun. Julinho Braun viveu com sua família no sobrado e, em determinada época, alugou uma parte do andar térreo para a Padaria Sperb. Nos anos 1990, um incêndio neste estabelecimento veio a comprometer o futuro do sobrado, tornando-o cada vez mais difícil e incerto. Alguns anos se passaram...
    A incorporação do sobrado ao Patrimônio Histórico e Cultural do Estado
    Rio Pardo através da criação da Lei Municipal nº 08, de 27/04/1979 arrolou inicialmente 35 bens considerados de valor histórico e cultural de expressiva tradição para a cidade, ressalvando que, após o processo de inventariação, poderia incluir novos bens que viessem a ser atingir este status. Este processo de inventário ocorreu em 2001, ano em que a referida lei passou a integrar o Plano Diretor Municipal de Rio Pardo. Esta lei disciplina as restrições e intervenções nos prédios e até mesmo do entorno, visando preservar as características originais dos elementos que formam o conjunto. Assim, por exemplo, nas fachadas devem ser mantidos os elementos arquitetônicos e o aspecto externo deve ser preservado.

    O Inventário do Patrimônio Cultural do Rio Grande do Sul foi realizado através de um convênio entre Governo do Estado do Rio Grande do Sul – Secretaria de Estado da Cultura, SEDAC – CPHAE e Secretaria da Educação, SEC/Pres. Rep. – Instituto Brasileiro de Políticas Culturais, IBPC/RS, sendo publicada no ano de 2001 a relação de 103 bens, dentre eles o chamado Sobrado Braun (Referência PRS 99.0051.0003), supostamente construído no ano de 1896 (44 anos depois)...
    Uma vitória por vez. O tombamento puro e simples não é uma garantia efetiva de que o imóvel seja restaurado, pois os recursos públicos sabidamente não conseguem contemplar todos os imóveis tombados. Quem estaria disposto a abraçar esta empreitada? Quem direcionaria recursos para um árduo trabalho de longo prazo? Seria preciso alguém que, por algum motivo, talvez incompreensível para a maioria das pessoas, viesse a se identificar com a casa de sobrado e que compreendesse a sua essência. A centenária construção guarda em silêncio a história daqueles que nela viveram ou estiveram de passagem. Esta história, cujo período de tempo ultrapassa um século e meio, incluiu inúmeros ritos de passagem: nascimentos, casamentos, decessos e outros tantos eventos importantes na vida das pessoas. Em certo sentido, a casa adquiriu sua própria ‘alma’ através da inevitável convivência humana no lento passar dos anos. Mas a realidade é que o sobrado centenário estava se desfazendo em ruínas, sob a ameaça de serem sepultadas para sempre as memórias que guardava, até o inevitável dia em que tudo seria transformado em poeira inútil levada pela mão do tempo...
    A reforma do sobrado teve o seu início em 2011, e continua a ser restaurado neste ano de 2014. Entramos no compasso de espera. Pelo que observamos das fotos, praticamente a metade da construção original conseguiu chegar ao Século XXI. Passados 162 anos, o sobrado ainda faz parte do nosso tempo presente. Mas ele conseguiu ir além: conquistou o seu lugar no futuro, dentro da paisagem urbana da cidade histórica de Rio Pardo.
     
    voltar